12 Mar Entrevista com a Enóloga Joana Lopes
Em entrevista ao Winelicious Wine Blog, a enóloga Joana Silva Lopes, umas das enólogas responsáveis pelos bons vinhos da Quinta do Casal Branco, conta-nos um pouco sobre o seu trabalho e suas preferências no mundo dos vinhos. Confira!
Qual é a maior satisfação que sente ao realizar o seu trabalho?
A maior satisfação é podermos fazer algo que é pensado, desenhado e criado, para dar satisfação e prazer. Chegar ao fim e conseguirmos ter, numa garrafa, tudo isto é um gosto enorme.
Criar vinhos é também uma maneira de se expressar? Acredita que os vinhos que elabora contam também um pouco de si?
Claro que sim, embora tenhamos sempre presente a quem é que se destinam, temos de estar naturalmente satisfeitos e confiantes quando decidimos um lote.
Qual estilo de vinho que mais aprecia?
Tem mudado… Hoje-em-dia aprendi a dar mais valor a vinhos velhos, perceber a sua evolução e o seu potencial. É um desafio.
Quais são as características que um vinho deve que apresentar para que a Joana o considere verdadeiramente bom?
Ser genuíno e expressar verdadeiramente um terroir. Um vinho que seja característico de uma determinada região é sempre um bom vinho. Por outro lado, valorizo muito a evolução de um vinho em prova. Os bons vinhos vão aparecendo durante a prova. Vão se mostrando devagar.
Há alguma região vitivinícola ou casta que lhe desperte maior interesse ao ponto de dizer que é a sua casta ou região de eleição?
Não posso dizer que tenho uma casta de eleição… tenho várias, tudo depende do sítio onde estão. De um modo geral, gosto bastante de Syrah e Touriga Franca.
Se formos, por exemplo, para Pouilly-Fumé (Vale do Loire), gosto naturalmente de Sauvignon Blanc ou de Cabernet Sauvignon, em Coonawarra (Austrália)
No seu entendimento, qual é a importância do terroir para um vinho? É realmente perceptível a sua influência no produto final?
É, sobretudo, o terroir que faz com que determinada casta se comporte de maneira diferente de sítio para sítio. Nem sempre as diferenças de terroir se expressam nos vinhos. Para mim, é um valor acrescentado quando isso acontece.
De acordo com a sua experiência, o que distingue os vinhos portugueses dos seus congéneres? Há alguma característica que os tornem verdadeiramente distintos, únicos?
São particulares, num país tão pequeno conseguimos fazer vinhos muito diferentes. Há, de certeza, em Portugal vinhos para todos os gostos. Isto é uma grande vantage e uma bandeira para os vinhos portugueses. Por outro lado, o know-how evoluíu de maneira impressionante nos últimos anos, o que faz com que a qualidade dos nossos vinhos tenha subido exponencialmente.
Qual a importância do enoturismo na divulgação da cultura dos vinhos? Essa maior proximidade dos consumidores com os produtores tem sido positiva de que maneira?
No seu tempo livre, as pessoas procuram sair dos centros urbanos e da sua rotina para ter novas experiências e vivências, conhecer o mundo diferente do seu.
Enoturismo não é apenas ter uma loja aberta e vender vinhos ao público. É sobretudo possibilitar experiências enriquecedoras e novas. Este é o caminho, mas ainda há muito para fazer.
A maneira de comunicar o vinho tem se modificado com o advento da internet, das redes sociais e com o fenómeno da globalização. Os consumidores estão expostos a uma variedade maior de produtos e informações. Como enóloga, quais são os principais contributos que os wine bloggers podem dar ao mercado dos vinhos na sua opinião? Como estas duas profissões podem conversar entre si e melhor servir o consumidor final?
Os wine bloggers são fundamentais na divulgação dos vinhos, das adegas , do trabalho dos enólogos. São importantíssimos na divulgação das experiências, de que falava anteriormente. Os enólogos sabem fazer vinho, os wine bloggers sabem comunicar informação. Há-que criar relações e parcerias. Os opinion liders têm uma “responsabilidade” para com o público e a sua opinião pode influenciar definitivamente um percurso comercial de uma casa ou de um vinho.
Há que “profissionalizar” este sector e torná-lo simultaneamente mais responsável.
Acredita que os movimentos de consumo moderado são um entrave para o mercado dos vinhos? Como estes movimentos impactam (de alguma maneira ) o seu trabalho?
Não, de todo. Nós queremos pessoas que consumam moderadamente, que sejam capazes de apreciar um vinho e que o valorizem. Preferimos sempre qualidade em detrimento de quantidade.
As novas tecnologias se fazem cada vez mais presentes nas vinhas e adegas. Na sua opinião como estas novas ferramentas podem coexistir com as tradições sem destruí-las?
Claro que sim. Esse é o caminho. As novas tecnologias vieram facilitar o trabalho, traduzindo-se em eficiência e acréscimo de rentabilidade, essencial em alguns vinhos mais competitivos. A tradição está inerente à nosso filosofia no Casal Branco, nos vinhos da gama Quinta do Casal Branco e Falcoaria.
Pode compartilhar connosco uma sugestão de harmonização a não perder com um dos vinhos que produz na Quinta do Casal Branco?
Com o nosso recente lançamento “Falcoaria Late Harvest 2014”, sugiro uma entrada de fois gras ou, se preferimos, após a refeição com uma fatia de cheesecake de lima.