17 Jun Entrevista com Didú Russo
Hoje temos o prazer de partilhar convosco uma breve entrevista com o Eduardo Granja Russo, mais conhecido por DIDÚ. Este enófilo brasileiro tem um portal com artigos bastante interessantes e um instagram cheio de dicas rápidas e boas, para quem ainda não conhece o trabalho dele vale a pena conferir!
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Quando começou o seu interesse pelo mundo dos vinhos?
Eu por ser de família de europeus sempre estive ligado ao vinho. Durante a semana meu pai bebia vinho de garrafão e aos domingos Chianti. Mas meu gosto realmente pegou forte quando editei uma revista chamada Plus, para o grupo de Shoppings Renasce e eu criei pseudônimos para ganhar a graça dos jornalistas. Eu fazia tudo na revista. A coluna de vinhos deus certo Sr.., J.Tadeu Sabos… um velhinho fictício que conhecia inúmeros vinhedos no Mundo todo e a cada edição falava de um lugar… tive que estudar para não escrever bobagem e fui irremediavelmente fisgado pelo assunto.
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A cultura do vinho é extremamente rica, vasta e complexa. Ainda assim, a comunicação pode ser descomplicada e o consumo democratizado?
Sem dúvida alguma que sim. O Vinho é um tema vasto, complexo, infindável, mas beber vinho é algo muito simples e prazeroso. É isso que o mercado precisa.
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Acredita que o vinho pode ser uma porta de entrada para interesses maiores por história, sociologia, economia, geografia e línguas, por exemplo? Será este produto um embaixador da cultura (mesmo nos países que não têm uma tradição vitivinícola)?
Eu fui sempre um péssimo aluno de história e geografia. Sempre passei de ano apertado nessas matérias. Hoje, por conta do Vinho o que mais gosto é justamente história e geografia. Simplesmente fascinante. O vinho acompanha a humanidade e por tanto a evoluindo do homem.
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Qual é a sua visão a respeito das DO e IG?
Não é um tema que me preocupa. Compreendo que seja promocional para as regiões, mas isso só tem sentido, a meu ver se respeitar a cultura, a história, os hábitos ancestrais, os artesãos.
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Acredita que os vinhos biodinâmicos naturais serão o futuro? Estes vinhos serão capazes de conquistar o interesse dos grandes produtores ou volume de produção que estes atingem representará sempre um entrave para a expansão e popularização deste tipo de vinhos?
Sem dúvida será o caminho. Uma questão de inteligência. Estudar a energia da fotossíntese que representa 96% de toda a matéria seca de uma uva é simplesmente mágico. Saber que um ambiente equilibrado e preservado de vizinhos não fica doente é maravilhoso. Claro que é o futuro, mas não para volumes grandes. São mundos distintos no vinho, o industrial e o artesanal. E os dois existirão sempre na minha opinião, embora a cultura e a conscientização dos jovens fará crescer cada vez mais os orgânicos e biodinâmicos e a melhor maneira de ser orgânico é ser biodinâmico, mas… é trabalhoso e precisa estudar muito e SER biodinâmico também. Digo o produtor. Sem essa convicção não se faz biodinâmica pois não se consegue a energia e a confiança para isso.
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Como grande conhecedor de vinhos e do respectivo mercado, consegue fazer projeções para o futuro? Entende que as pequenas casas produtoras ainda terão o seu espaço ou as políticas adoptadas pelas entidades reguladoras impulsionarão de alguma forma o domínio do mercado pelos grandes grupos? Se sim, o que os consumidores estariam a ganhar e a perder com isso?
Não há dívida que o mercado do vinho seguirá com segmentos claros: Os vinhos de volume e baratos, industriais. É o maior mercado e sempre será. Os vinhos ícones, famosos, chegaram lá e se manterão e se valorizarão muito pois são ícones. Os vinhos pontuados, badalados da moda, sempre haverá vendedores insuflando esse mercado por interesse, sempre haverá um tonto bebendo o gosto do crítico e sempre haverá esnobe para comprar esses vinhos, independente de gostar ou não. Os vinhos especiais tipo Jerez, Madeira, Porto, Jurá, Sauternes, Tokaj. São únicos e não acabarão nunca. Os vinhos orgânicos e biodinâmicos certamente crescerão enormemente, não há como ser diferente, pois os produtos químicos estão matando a fertilidade do solo. Não tem volta isso. Os vinhos artesanais de fermentação expontânea certamente crescerão pois são os mais autênticos representantes da cultura e do local. Esses vinhos serão mais e mais procurados, pela sua originalidade e respeito verdadeiro ao terroir. Quem conhece vinhos busca por isso, a paisagem engarrafada, que a indústria nunca fará. O consumidor sempre se dará bem, pois haverá sempre um vinho para ele, mas a indústria ficará no seu nicho. As máscaras estão caindo e o verdadeiro cada vez fica mais claro no falso.
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Na sua visão, os vinhos brasileiros se diferenciam no mercado internacional por quais características, o que os torna únicos? Quais são suas vantagens e desvantagens competitivas?
Os vinhos brasileiros em sua maioria não têm uma personalidade regional. O Brasil é imenso e de muitos perfis. Os espumantes eu diria que têm uma personalidade de frescor e jovialidade, porém os produtores brasileiros estão sempre querendo ser outra coisa que não são. Ainda não aprenderam a respeitar seu perfil e suas características. Querem fazer vinhos chilenos e os chilenos querem fazer vinhos de Bordeaux… Um pecado isso. Há claro excepções e grande s excepções, posso citar os vinhos Era dos Ventos, os vinho do Atelier Tormentas, os vinhos da Vinha Anna, os vinhos do entre Villas entre outros poucos, pequenos e artesanais, mas no mercado geral ainda não nos orgulhamos de nosso perfil de vinho fresco e frutado e buscamos ser o que não somos. Há um longo caminho a percorrer. Claro com a ressalva que falo de vinhos sinceros e autênticos. Entre vinhos comerciais, o Brasil produz ótimas opções e a bons preços.
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É preferível um vinho autêntico ainda que não seja extraordinário ou um “grande” vinho fruto de intervenções/ correções enológicas? Na sua perspectiva, até onde deve o enólogo ir na concepção de um vinho?
(Risos!) – Claro que prefiro um vinho naturalmente desequilibrado que um vinho equilibrado tecnologicamente… sem dúvida alguma. Eu gosto do simples, do rústico, do sincero e claro, se for bem feito… mas não recuso um copo de vinho e admiro muitos dos vinhos convencionais que são maravilhosos.
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Tem predileção por alguma casta ou região?
Sim, sou apaixonado na casta Nebbiolo. Regiões muitas e ainda não conheço tudo que gostaria, mas o Douro, a Toscana, o Loire, a Alsace… impossível escolher.
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Pode partilhar connosco uma harmonização que tenha especial apreço?
Spaghetti al Sugo (feito por mim) e um bom Chianti simples e autêntico.
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Para finalizar, se tivesse que escolher um único vinho para representar o Brasil além fronteiras qual escolheria?
Se fosse branco seria o Peverella Era dos Ventos, se fosse tinto seria o Fvlvia Pinot Noir do Atelier Tormentas, se fosse Espumante o Estrelas do Brasil 2006