08 Ago Ciência e Vinho – do terroir para o copo
No dia 07 de Setembro, o Porto será palco da conferência “Ciência & Vinho – do terroir para o copo” onde serão abordados alguns dos tópicos mais importantes ligados à vinha e ao vinho: terroir, viticultura, vinificação, avaliação sensorial, marketing e saúde. Um evento promissor, pelo que fica aqui o nosso convite aos leitores para prestigiarem este encontro que certamente será rico e proveitoso.
Para sabermos um pouco mais sobre essa iniciativa, o Winelicious Wine Blog entrevistou a Comissão Organizadora do evento. Confiram a entrevista e caso tenham interesse em participar, poderão fazer a inscrição aqui!!
Winelicious Wine Blog – É louvável a concepção de um evento organizado por uma Universidade de prestígio e que reúne oradores de diferentes competências, permitindo assim um diálogo mais estreito entre o mundo académico e os agentes económicos. Como surgiu a ideia desta conferência?
Paula Silva (U.Porto): esta ideia surgiu do facto de me ter apercebido precisamente dessa falta de diálogo. Quando, em 2015, decidi juntar duas paixões da minha vida a Ciência e o Vinho, na procura de parceiros para os meus projetos de investigação dei conta de que os mundos empresariais, académicos e sectoriais estão, ainda, muito afastados. E lembrei-me que a realização deste tipo de conferências, não puramente científicas, mas de partilha entre pessoas que trabalham na mesma área e que têm diferentes tipos de conhecimento e de experiência podia servir para o despertar da consciência que a união de todos é vantajosa para todos e para cada um. Daí o envolvimento desde a primeira hora da Universidade do Porto (U.Porto) tanto na organização como na promoção deste evento. O apoio ao Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto I.P. (IVDP) foi pedido, naturalmente, pelo facto de ser uma instituição setorial muito importante do país, mas também na tentativa de captar público não académico para esta conferência e que no início de setembro se desloca ao Porto para as celebrações do Port Wine Day que o IVDP promove por esta altura desde 2014.
Carlos Brito (U.Porto): Para a U.Porto esta conferência representa uma oportunidade na medida em que abre a porta a novas dinâmicas de desenvolvimento interdisciplinar ao nível da valorização do conhecimento no domínio da produção, comercialização e consumo de vinho. Neste contexto, a organização da conferência enquadra-se no âmbito daquilo que usualmente se designa de Terceira Missão da Universidade. Isto é, através da transferência de conhecimento, procuramos contribuir de forma eficaz e eficiente para o desenvolvimento da sociedade e da economia, integrando as dimensões económica, social, cultural e ambiental.
IVDP: O “Port Wine Day” é um evento de cariz internacional, já na sua 4ª edição, e que pretende celebrar a criação, em 1756, da primeira Região Demarcada e Regulamentada do Mundo, a Região Demarcada do Douro. Neste contexto “O Port Wine Day” é sobretudo uma homenagem ao Vinho do Porto, à Região Demarcada do Douro e a todos os intervenientes que, ao longo de toda a sua longa história, consolidam o Vinho do Porto como embaixador da região, da cidade e do País.
Nesta edição de 2017, pretende-se uma ainda maior abertura ao publico consumidor, a todos os que convivem com a realidade do vinho do Porto e a todo o tipo de interessados em conhecer as diferentes extensões do Vinho do Porto. Desta forma, um evento como a “Ciência & Vinho” tem naturalmente o apoio do IVDP, pois está perfeitamente enquadrado nos objetivos de divulgação do conhecimento de muitas das dimensões do Vinho, a um público abrangente.
WWB – Com temas tão interessantes, pertinentes e de diferentes áreas do saber, não acreditam que numa edição futura este evento mereça se estender por mais dias, adoptando um formato de Congresso? Se possível com visitas técnicas de modo a divulgar mais a Região Demarcada do Douro, permitindo ainda os participantes conhecerem in loco a vitivinicultura da região e seu impacto socieconómico?
Paula Silva (U.Porto): esta conferência é sobre Ciência & Vinho e não sobre o Douro. Vamos falar de produção, de consumo de vinho e dos problemas que os afetam e que são comuns a todas as regiões do país e do Mundo. Caso esta conferência seja bem-sucedida a ideia é que a mesma possa ser a semente de um Congresso bianual, alargado a outras temáticas, eventualmente com sessões mais especificas a decorrer em paralelo. Mas sempre com o mesmo princípio, ou seja, que a mensagem chegue ao académico, empresário, viticultor, agente do turismo e a todos que trabalhem com vinho e pelo vinho.
Carlos Brito (U.Porto): É ainda cedo para assumirmos qualquer compromisso pois teremos de esperar pelos resultados da conferência. No entanto, dada a enorme adesão que esta iniciativa está a ter, quer por parte da academia quer por atores oriundos do meio empresarial, julgo estarem reunidas as condições para que a U.Porto possa dar o passo seguinte envolvendo-se na organização de um futuro congresso. É estratégico para a Universidade reconhecer e estimular o contributo para o desenvolvimento do conhecimento sobre o vinho, uma área de vital importância para a cidade do Porto, para a Região Norte e para o País em geral. Caso esse congresso se venha a realizar, a multidisciplinaridade e a cooperação interna devem assumir um papel fundamental. O conhecimento e a aproximação entre diferentes grupos e competências dentro da U.Porto podem dar origem a resultados que não seriam atingíveis com esforços isolados.
IVDP: Existem naturalmente expectativas que este evento possa ter um sucesso assinalável, e que venha a ser possível dar sequência a um projeto ainda mais ambicioso, quer do ponto de vista de duração temporal e da profundidade científica, quer ainda da possível integração da componente de visitas técnicas à Região do Douro. Se houver condições para evoluir neste sentido, com certeza que o IVDP estará interessado em apoiar, pois, mais uma vez, toda esta envolvência de conhecimento e divulgação, está perfeitamente enquadrada nos objetivos estratégicos do IVDP.
WWB – A Universidade do Porto oferece algum curso voltado para o sector dos vinhos? Se sim, pode nos contar um pouco a cerca deste(s) programa(s)?
Jorge Queiroz (U.Porto): A U.Porto, oferece desde 1994, através da Faculdade de Ciências da U.Porto, o Mestrado em Viticultura e Enologia, em colaboração com o Instituto Superior de Agronomia e o Instituto Nacional Investigação Agrária (atual Instituto Nacional Investigação Agrária e Veterinária). Com o Processo de Bolonha, foi realizada a adequação desse Mestrado a um Curso de 2º Ciclo, envolvendo os mesmos parceiros, tendo dado origem ao atual Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia. Posteriormente a UP integrou com o ISA-UL, o consórcio que leciona o Vinifera Euromaster, programa Erasmus Mundus da Comissão Europeia (EACEA) em Viticultura e Enologia, envolvendo a Universidade de Udine, Consórcio da Universidade de Turin, Itália, Montpellier SupAgro/Bordeaux Sciences Agro, França, Universidade de Geisenheim, Alemanha, Universidade Politécnica de Madrid, Espanha. Para responder a uma procura mais profissionalizante nesta área, a Faculdade de Ciências em parceria com o ISA-UL e o INIAV, organizam um Curso de Especialização em Viticultura e Enologia, com funcionamento à sextas de tarde e aos sábados, com a duração de dois anos e cujas unidades curriculares podem ser creditadas na frequência do Mestrado referido.
Mais recentemente a U.Porto, através da Faculdade de Ciências, em colaboração com a Faculdade de Letras, juntamente com as Universidades de Rovira i Virgili (Tarragona, Espanha) e a Universidade de Bordéus (França), combinando as competências em Vinha, Vinho e Turismo, leccionam o Erasmus Mundus Master “Wine Tourism Innovation” (WINTOUR).
WWB – A Universidade do Porto colabora de alguma maneira com a PORVID – Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira? O trabalho desta associação é de valor inestimável para o sector, mas parece-nos ser pouco divulgado ou apoiado. Não seria oportuno a Universidade do Porto estreitar laços com iniciativas como esta e apostar nesta vertente investigativa?
Jorge Queiroz (U.Porto): A U.Porto tem acompanhado o trabalho da PORVID que considera, como diz, de valor inestimável para o país. Existe já colaboração entre a UP e a PORVID nomeadamente a nível do estabelecimento de campos de seleção de clones (por exemplo o campo de 3ª fase de seleção da casta Rabigato, uma das castas brancas que mais cresce no Douro) e, extremamente importante, são os trabalhos em desenvolvimento acerca da caracterização do genoma de castas portuguesas em curso, com o CIBIO. O estreitamento da UP com esta associação merece-nos a maior simpatia e importância. Quem sabe se nesta conferência haja oportunidade para oficializar um apoio da U.Porto, algo que nos deixaria muito satisfeitos.
IVDP: O IVDP é sócio fundador da PORVID e reconhece naturalmente a extrema importância dos objetivos desta Associação, no sentido da congregação de competências e recursos para a conservação e valorização da diversidade genética das castas, com divulgação conhecimento produzido. Neste contexto, O IVDP tem desenvolvido, em parceria com esta Associação, um conjunto de provas comentadas de vinhos monovarietais produzidos na Região Demarcada do Douro, com o intuito de evidenciar a riqueza varietal das castas e a sua expressão na identidade dos vinhos da Região.