23 Jun Concha Y Toro
Esta renomada vinícola chilena, a maior do seu país, despensa grandes apresentações. Fundada em 1883 pelo Don Melchor de Concha y Toro é actualmente gerida pelas famílias Guilisasti e Larraín. Esta empresa consagrou-se no mercado, sendo hoje umas das vinícolas mais importantes a nível mundial, coleccionando grandes prémios. Basta dizer que é a segunda maior vinícola do mundo, presente em 145 países, com visibilidade nos cinco continentes e que produz 12 linhas de vinho (um portfolio marcado pela qualidade e consistência), contando ainda com vinhedos espalhados por seis regiões do Chile, além de duas unidades no exterior, uma na cidade de Mendoza (Argentina) e outra no estado da Califórnia (Estados Unidos). É assim, uma empresa sólida, líder no mercado e o seu modelo de negócio bem-sucedido é referência para o sector.
Um aspecto distintivo da estratégia desta empresa tem sido a sua orientação para a exportação, o que se reflecte na abertura permanente de novos mercados e um interesse em compreender os diferentes contextos, as tendências de consumo e seus canais de distribuição. Actualmente, a empresa conta com uma forte rede de distribuição e junto com os seus distribuidores construiu sua imagem de marca em distintos mercados. Como forma de reforçar a presença a nível mundial e satisfazer a demanda dos consumidores, nos últimos anos, a empresa tem tomado medidas no sentido de integrar a rede de distribuição com os seus escritórios (inicialmente no Reino Unido, posteriormente no Brasil, nos países nórdicos, nos Estados Unidos e, mais recentemente, no México, África do Sul, Singapura e Canadá). Em 2013, por sua vez, em busca de novas oportunidades e procurando capitalizar novas oportunidades de crescimento no mercado chinês, abriram a loja Concha y Toro China (Gan Lu Wine Trading). Assim, a holding tem o controlo da distribuição de mais de 65,5 % das suas vendas, permitindo alinhar as estratégias de negócios e de marketing entre a empresa e os diferentes mercados, tornando-se um importante factor de dinamismo. Para além de permitir uma maior proximidade aos consumidores, dispondo da flexibilidade necessária para atender às necessidades especiais de cada mercado em que actua.
Um dos vinhos mais emblemáticos desta casa é o Casillero del Diablo, bem afamado no Brasil. Acredito que boa parte desta fama deve-se à história que envolve este vinho. Reza a lenda que um diabo habita a adega onde os vinhos fazem o seu estágio, mas na realidade a história tem outros contornos. Na verdade, este vinho sempre foi um dos preferidos dos chilenos e de tão bom que o vinho era, algumas pessoas, na calada da noite, invadiam o Casillero (adega) para furtarem algumas garrafas. O Don Melchor apercebendo-se da situação não deixou por menos e começou a difundir o rumor que na sua adega habitava o diabo. Claro que com um guardião destes não preciso nem dizer que nunca mais houve um registo de furto e o temor se espalhou rapidamente, dando origem à lenda do Casillero del Diablo que até hoje se mantém viva e popular.
Vídeo exibido durante a visita guiada.
Porém, não é só de lenda que vive este grande vinho. Devido a um grande trabalho que começa desde as vinhas, passando pela mão de enólogos exigentes e empenhados, sem falar das fortes campanhas publicitárias a nível global, o Casillero del Diablo ganhou alcance mundial, tendo a sua qualidade atestada por diversos prémios que recebe, anos após anos, em vários concursos internacionais, tanto nas suas linhas Premium quanto Super Premium. Como curiosidade, posso dizer que em 2010 este vinho quebrou o seu recorde e alcançou números invejáveis, mais de 3 milhões de caixas foram vendidas mundo a fora e como se não bastasse este grande êxito, neste mesmo ano, a Concha y Toro fechou contrato com o Manchester United se tornando o vinho oficial da equipa inglesa dirigida pelo Sir Alex Ferguson, o que lhe deu grande visibilidade no mercado europeu.
Ainda, em joint venture com a vinícola francesa Baron Philippe de Rothschild, produz o ícone Almaviva, um vinho de primeira grandeza que também não passa despercebido pelos apreciadores de vinho.
A empresa tem preocupação com o desenvolvimento sustentável e com a responsabilidade social corporativa (em inglês Corporate social responsibility – CSR, também conhecida como consciência corporativa, cidadania corporativa ou responsabilidade corporativa). Isto é, a empresa tem sido capaz de incorporar a sustentabilidade em sua visão societária com a firme convicção de que é possível trabalhar em harmonia com o meio ambiente, ser socialmente equitativa e bem-sucedida em termos de negócios. Especificamente, a empresa definiu sua a estratégia de sustentabilidade baseada em seis pilares: produto, cadeia de abastecimento, clientes, pessoas, sociedade e meio ambiente.
Desde 2013 a Concha y Toro tem trabalho em cada um destes aspectos através de diferentes iniciativas para alcançar os objectivos propostos e conseguir um maior progresso ao longo do tempo. Uma conquista importante para a vinícola foi a obtenção da certificação do Código Nacional de Sustentabilidade entregue pelo Wines of Chile, reconhecendo o seu compromisso à viticultura sustentável e confirmando que a empresa cumpre o standard nacional das indústrias que promovem as boas práticas ao longo da sua cadeia produtiva, incluindo não apenas os vinhedos, adegas e engarrafamento, mas também a esfera social em seu sentido mais lato, abrangendo as pessoas, a sociedade e o meio ambiente.
Na minha visita à Santiago do Chile tive a oportunidade de conhecer esta famosa vinícola e passar uma tarde prazerosa nas suas instalações. A equipa do enoturismo está muito bem preparada para receber a grande afluência de visitantes que chegam dos mais variados cantos do mundo. O ambiente é envolvente: o restaurante oferece refeições saborosas com um especial cuidado na harmonização com os vinhos da casa (as mesas do jardim são bastante disputadas); a wine shop, bem decorada, atrai e convida ao consumo, já os jardins são mais uma atracção a não perder, uma espécie de jardim botânico com um grande lago central, que no passado era utilizado como fonte de água para irrigar as vinhas. Todavia, o casarão é utilizado como escritório por diversos sectores da empresa, pelo que o seu interior não é aberto ao público, mas confesso que mesmo visto do exterior já é de encher os olhos.
As visitas guiadas estão divididas em duas opções, uma tradicional chamada Concha y Toro (com duração de 1 hora e direito à duas provas de vinho) e uma mais completa (com duração de 1h30 e que inclui seis provas de vinho e queijo – se optar por esta poderá provar o selo Marques de Casa Concha, para além das degustações serem conduzidas por um sommelier). Para garantir um lugar nos grupos, convém fazer reserva com antecedência no site oficial da vinícola, visto que os passeios são concorridos e possuem vagas limitadas.
Na minha opinião visitar esta vinícola é uma programação indispensável para quem visita Santiago (ainda que não seja um grande entusiasta do vinho ou que o produto lhe seja pouco familiar). A visita guiada e a prova de vinhos são agradáveis e torna-se mais comercial (abrindo as portas para um público mais vasto) do que a encontrada em outras vinícolas da região pelo facto de se deter menos aos aspectos técnicos de produção. Esta aborda mais a história, os valores da empresa, trazendo também alguns dados sobre o volume de produção (para mostrar a sua dimensão e importância no cenário mundial) e as características dos vinhos que produzem, deixando o visitante que é menos inteirado do assunto a vontade para desfrutar do passeio.
Anotem na agenda e não hesitem em conferir de perto…