20 Jan Entrevista com a enóloga Elena Adell
Winelicious – Qual é a máxima no processo de elaboração dos vinhos Campo Viejo?
Elena Adell – Queremos elaborar vinhos atractivos pela sua cor, aroma e boca. Queremos que os consumidores se sintam atraídos pelos nossos vinhos desde o instante em que vêem a bebida escorrer na taça e ainda que, uma vez provado, sintam a vontade de tomar mais uma taça, porque o vinho lhes agradou.
W– Qual a mensagem que querem transmitir através dos vinhos que elaboram?
E A – Que o vinho foi elaborado para ser apreciado, para nos darmos esse pequeno prazer cotidiano, visto que temos esse direito depois da vida dura que levamos.
W– O que tem um Rioja que não têm os demais?
E A – Dentre várias características, podemos aqui destacar três:
A sua graciosidade, são vinhos que sempre te vão agradar porque os vai apreciar sejam quais forem os teus gostos; a sua diversidade, o leque de estilos que podem encontrar dentro dos Riojas é infinito e a sua tipicidade, é curioso porque esta característica não é incompatível com a anterior.
W– A preservação do meio ambiente está em voga. Quais são as práticas na vinícola Campo Viejo que têm em atenção o cuidado com o meio ambiente?
E A – Para nós o cuidado com o meio ambiente não é uma moda passageira, mas na realidade uma maneira de fazer as coisas.
Ainda não havia sido dado um nome a muitos dos conceitos que atualmente empregamos no âmbito do cuidado com o meio ambiente e nós já estávamos implementando uma adega sustentável. Creio que contamos com todas as certificações que existem nesta matéria. Porém, isto não é o mais importante, o mais importante é que todos os dias trabalhamos com a filosofia de cuidar do nosso ambiente, dos nossos funcionários, dos nossos clientes e, em última instância, da nossa sociedade considerada no seu sentido mais amplo. Estamos convencidos de que o desempenho económico e a responsabilidade social em um negócio andam de mãos dadas, por isso a Responsabilidade Social Corporativa é um dos pilares da nossa empresa e foi implementada em diferentes áreas de actividades e a todos os níveis.
W– Elena Adell poderias nos contar um pouco sobre o projecto de Nano Adega/ Adega Experiemntal que estão a desenvolver?
E A – A Adega Experimental era um projecto muito desejado pela Campo Viejo e que finalmente viu a luz durante a vindima de 2013. Desde a construção das novas instalações da adega em 2001, já tínhamos projectado um espaço que daria resposta aos projectos de I + D + i, tanto na área viticultura como na de enologia. O objetivo da vinícola com este projecto é experimentar e inovar.
Assim, estamos investigando diversos aspectos que rodeiam o vinho para melhorarmos em diferentes áreas: nos vários processos de elaboração, buscando a eficácia e a sustentabilidade; na criação de novos produtos; na análise do comportamento de novas variedades de uva e na resposta relativamente aos tratamentos nos vinhedos que apresentem um menor impacto ao meio ambiente, etc.
W- Quais são as vantagens de um projecto desta envergadura para o trabalho dos enólogos e para os consumidores finais?
E A – Aos enólogos permite ensaiar qualquer ideia que nos ocorra, tanto no campo da viticultura (já que a adega experimental está associada a três plantações experimentais que têm toda as variedades que podemos cultivar na Rioja), como no campo da enologia. Se a experiência é positiva, extrapolamos as conclusões à adega grande e aí passam aos nossos vinhos.
O receptor final de todos estes esforços que culminam em inovações é o consumidor final, já que é ele quem bebe e desfrurta dos vinhos que resultam delas. Tudo o que fazemos tem um finalidade última que é fazer vinhos que os nossos consumidores gostem cada vez mais.
W- Quais são as castas autorizadas na denominação de origem Rioja?
E A – As variedades de uva actualmente autorizadas pelo Regulamento da “D.O. Calificada Rioja” são:
- Tintas: Tempranillo, Garnacha, Graciano, Mazuelo e Maturana tinta.
- Brancas: Viura, Malvasía, Garnacha branca, Tempranillo branco, Maturana branca, Turruntés, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Verdejo.
W- Entre as variedades de uva da Rioja qual lhe agrada mais e por que?
E A – Se tenho que escolher uma, sem dúvidas que opto pela Tempranillo, tanto branca como tinta. Esta é a casta que nos dá carácter, que aporta a tipicidade aos vinhos da Rioja. Para mim é fundamental fazer vinhos diferentes, singulares, que se associem a um terroir concreto. A expressão da Tempranillo na Rioja é muito particular e é esta, em uma parte importante, mas não a única, que permite aos nossos vinhos serem diferentes de qualquer outro vinho do mundo.
W- Na sua opinião, qual será a casta e o tipo de vinho que serão tendência nos próximos anos no mercado mundial?
E A – A Tempranillo branca, seja em vinho monovarietais ou associada à suas companheiras autóctones.
W- Por que continuamos utilizando a rolha de cortiça?
E A – Apesar de não ser esta a única razão, porque a abertura de uma garrafa de vinho não seria a mesma com outro tipo de vedação. Parte do prazer de beber vinho envolve tudo aquilo que rodeia esta acção, desde a eleição do momento, da companhia, o próprio vinho, a taça… Não sei se já observaram, mas quando se abre uma garrafa é feito silêncio e todos ficam a espera da extracção da rolha, como se puxa o saca-rolhas, como cheira a rolha,…. Obviamente que não seria a mesma experiência se estivéssemos diante de uma tampa de rosca, por exemplo.
E então nós podemos falar sobre o meio ambiente, de questões técnicas, mas isso seria entrar em um debate muito longo.
W- Sabemos que cada detalhe no processo de vinificação é importante. A barrica não é considerada apenas como um mero recipiente para armazenar o vinho, mas também como um instrumento para fazê-lo evoluir, conferindo aromas e sabores através das substâncias presentes na madeira. Que tipos de barricas existem e qual é a influência das diferentes tostas no produto final?
E A – Podemos falar em barricas de carvalho (americano, francês, húngaro, russo…), mas também de acácia, cerejeira, etc… e de uma gama quase infinita de tostados. Os mestres toneleros podem fazer as barricas conforme os pedidos dos enólogos, de acordo com o que estes querem transmitir ao vinho através do estágio em madeira.
Efectivamente, a barrica é crucial quando definimos o estilo de um vinho e são as pequenas escolhas e os pequenos detalhes que vão determinar este estilo: se usarmos barricas francesas ou americanas, barricas construídas por um ou outro mestre toneleiro, mais ou menos tostadas, a madeira proveniente de um bosque ou de outro, os meses de secagem da madeira…tudo isso vai influenciar e podemos dizer que há uma infinidade de variáveis que os enólogos podem utilizar para conduzir o vinho a um ou outro estilo.
O mundo das barricas é outro dos mundos apaixonantes que circundam o vinho!