17 Jul Entrevista com o enólogo Paulo Laureano
Em entrevista ao Winelicious Wine Blog, o renomado enólogo Paulo Laureano conta-nos um pouco sobre sua trajectória, sua paixão pelas castas portuguesas e a filosofia dos vinhos que desenvolve. Uma entrevista leve e descontraída, o que já era de se esperar de um enólogo em que o sorriso, o bigode e os vinhos distintos são a sua marca. Vale a pena conferir!
Como começou o seu interesse pela vitivinicultura? Um sonho de criança ou quando se apercebeu a vida já tinha lhe conduzido à posição de um dos enólogos com mais expressão no nosso país?
Eu sou agrónomo e quando terminei o meu curso, tinha que escolher uma área de trabalho. Embora não venha de uma família de viticultores, o vinho sempre esteve presente e sempre me causou uma enorme curiosidade. A escolha foi por isso simples. Depois foi rápido, esta é uma área de paixões e verdadeiramente quando nos envolvemos é impossível deixá-la.
É um dos defensores das castas portuguesas. Acredita que devemos explorar novas variedades e apostar mais nas castas autóctones como factor de diferenciação do vinho português no mercado internacional?
Sou um defensor acérrimo das castas portuguesas, elas dão personalidade e diferenciação aos vinhos produzidos nas diferentes regiões vitivinícolas portuguesas. Estão perfeitamente adaptadas aos solos e aos diferentes climas e verdadeiramente distinguem os vinhos portugueses de todos os outros. Acredito por isso que elas são fundamentais para o futuro dos vinhos portugueses. Portugal é um pais com uma longa história vitivinícola, não precisa de se reinventar.
Sabemos que tem procurado resgatar o cultivo da Tinta Grossa, uma casta alentejana que tinha caído em desuso. Há interesse em resgatar, nos próximos tempos, outras castas quase extintas, impulsionando assim este movimento de resgaste da identidade dos vinhos nacionais?
Há interesse em recuperar todas as castas portuguesas de qualidade que estejam mais esquecidas ou mesmo praticamente extintas, porque se trata de um património cultural de valor incalculável.
Elaborar vinhos a partir de castas mais desconhecidas implica também informar e educar os consumidores, exigindo assim um pouco mais de trabalho por parte dos profissionais que optam por este caminho. Na sua opinião, e com base na sua experiência, este trabalho de comunicar o vinho tem sido gratificante?
Bastante, sendo eventualmente mais difícil de levar a cabo, permite um posicionamento diferenciado dos nossos vinhos, o que é algo de enorme importância.
Há alguma casta que tenha um carinho especial ou que goste mais de trabalhar?
Obviamente encanta-me o Antão Vaz e a Tinta Grossa produzidos nas minhas vinhas na Vidigueira, mas existem muitas outras que pela sua personalidade e carisma são igualmente desafiantes.
Qual sugestão que daria aos novos profissionais da enologia?
Quando chegamos a este mundo queremos normalmente experimentar tudo e testar muitas coisas novas. O que é extremamente positivo. No entanto, existe uma coisa que nunca mudou ao longo dos séculos, para produzir um grande vinho, precisamos unicamente de um solo extraordinário, um clima de excelência e as castas de uvas adequadas.
Portugal é um país embebido na cultura do vinho, uma cultura milenar. No nosso território, há uma grande variedade de castas – ímpar no mundo- e encontramos aqui excelentes terroirs. As condições para a produção de vinho no país são favoráveis. Para o enólogo isto significa uma bênção, dispor de condições boas para desenvolver o seu trabalho e ter o respaldo de uma tradição forte, mas isso também pode ser encarado como um desafio, na medida em que se pretende corresponder à qualidade e ao legado que nos foi deixado e ainda assim ter algum espaço para inovar. Neste sentido, qual o contributo que pretende deixar para a cultura do vinho portuguesa, pelo que gostava que seu trabalho fosse lembrado?
Gostava sobretudo que as pessoas entendem-se que Portugal possui uma riqueza única de castas, que têm que ser preservadas e desenvolvidas, tal como um conjunto de terroirs de excelência que são inigualáveis.
Pode nos contar um pouco sobre a filosofia que está por trás dos vinhos que concebe? O que lhe move, o que lhe instiga a transcender?
A filosofia da Paulo Laureano Vinus é muito simples, nós achamos que existem dois factores de distinção na produção dos nossos vinhos: uma aposta exclusiva nas castas portuguesas e um terroir de excelência que é a Vidigueira, no Alentejo. Todos os dias trabalhamos para tornar ainda mais valiosos estes dois pilares da qualidade dos nossos vinhos.
A vitivinicultura se entrecruza com princípios de sustentabilidade e responsabilidade ambiental. No exercício do seu trabalho, quais são as principais políticas que tem adoptado neste âmbito?
Todas as nossas vinhas estão inseridas num programa de Protecção Integrada e uma pequena parte já em Produção Biológica. Na adega, adoptamos medidas de reutilização de várias matérias para garantir um maior respeito pelo ambiente e uma menor pegada de carbono. Por exemplo, as águas que utilizamos na adega são recicladas de forma continua, para promover o máximo de utilizações possíveis. As caixas dos nossos vinhos não são pintadas e têm mensagens de alerta para a necessidade de preservação de várias espécies animais em extinção….
Para concluir, pode partilhar connosco uma sugestão de harmonização?
Um Paulo Laureano Vinhas Velhas Private Selection Branco 2016, 100% Antão Vaz, com umas vieiras sobre um molho de cogumelos selvagens ou um Paulo Laureano Selectio Tinta Grossa 2013 com um carré de borrego sobre um molho de frutos do bosque.