Natália Andrade

Apaixonada por vinhos, acredito que as coisas boas da vida devem ser brindadas. Encontre aqui dicas do que há de melhor no mundo da vitivinicultura.

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ENTREVISTA IBRAVIN

ENTREVISTA IBRAVIN

Hoje partilhamos aqui uma entrevista ao IBRAVIN – Instituto Brasileiro do Vinho que nos conta um pouco sobre o panorama actual da vitivinicultura brasileira. Confira!

Como os vinhos brasileiros se caracterizam? Há alguma característica que os tornam singulares?

Por ser um país com dimensões continentais e regiões produtoras com diferentes característcias de clima e solo, em geral podemos afirmar que os vinhos brasileiros são leves, com boa acidez, gradução alcoólica reduzida e com uma diversidade de estilos bastante grande. Essas características explicam o porquê de sermos reconhecidos entre os principais produres de espumantes do Novo Mundo.

Qual o estilo de vinho que o Brasil melhor sabe fazer? Há uma casta que tenha se adaptado melhor ao terroir brasileiro e que possamos apontá-la como casta nacional?

O Brasil vem se destacado na elaboração de espumantes, seja pelo método Tradiconal ou pelo método Charmat. No método Tradicional já temos produtos com valor agregado bastante interessante, que trazem complexidade e também a presença marcante da fruta. Já no  método Charmat conseguimos nos destacara justamente pela acides e pelo frescor dos nossos produtos, muito leves, aromáticos e que têm atraído a atenção de consumidores de diversos paíes, além dos consumidores brasileiros, que já elegeram a bebida como a preferida em relação ao demais produtos presentes no mercado. Em relação às uvas tintas e vinhos tranquilos, já demonstramos uma aptidão muito grande na produção de Merlot, com uma tipicidade e qualidade também reconhecida no mundo do vinho. Outras variedades utilizadas na elaboração de espumantes também se destacam, como as brancas Chardonnay, Moscato e Rieslig e a tinta Pinot Noir. Também estamos observando a retomada de algumas variedades que já foram muito importantes para a vitivinicultura brasileira, em especial a Cabernet Franc.

 

Pode nos falar brevemente sobre as IG vitivinícolas brasileiras? O mercado já as compreende ou ainda é preciso uma maior divulgação das mesmas?


As informações sobre as IGs podem ser acessadas neste link: https://www.ibravin.org.br/Indicacoes-Geograficas. Quando se pensa em vinho, logo se pensa no local em que é produzido. É fundamenta o conhecimento maior sobre as regiões produtoras e suas características e as formas de distingui-los para uma maior valorização dos produtos. O Ibravin, em parceria com o Sebrae, está desenvolvendo o projeto Valorização dos Vinhos Brasileiros que inclui a divulgação das diferentes regiões e o fomento para que novas regiões conquistem também o selo de uma IG ou até mesmo uma Denominação de Origem (DO), justamente por entendermos que é necesário um trabalho de divulgação maior sobre os benefícios das IGs para os setores produtivos, em especial da uva e do vinho, já que o levantamento de informações sobre especificidades de solo, clima e outros dados científicos são recentes no país.

Acreditam que num futuro próximo possamos assistir o despontar de novas regiões vitivinícolas no Brasil?     

Sim. Inclusive já estamos observando regiões como o Sul de Minas, Noroeste de São Paulo, em Santa catarina, Paraná, enfim, novas regioes que têm surgido, com características próprias, muitas investindo também no enoturismo. Essa expansão contribui para o desenvolvimento da cultura  do vinho em todo o país, além de ampliar ainda mais a diversidade de produtos e estilos e a oferta de destinos turísticos.

Como o IBRAVIN tem colaborado na divulgação dos vinhos brasileiros no mercado interno e internacional? Quais são as acções  promocionais de maior relevo?

O Ibravin tem investido ao longos de duas décadas na promoção do vinho brasileiro e também na organização da cadeia produtiva da uva e do vinho. Nos últimos anos, destacamos a veiculação de campanhas publicitárias e a obtenção de mída espontânea que supera a marca de R$ 30 milhões/ano, tendo observado um crescimento exponencial do assunto vinho na mídia. Nesta linha, já tivemos a veiculação de programas em rede nacional, a viabilização de novela tendo o vinho como elemento central, além de campanhas publicitárias, como a mais recente – Seu Vinho, Suas Regras, campanhas sazonais e diversas outras iniciativas. Em parceria com outras entidades como Sebrae e ABE també realizamos press trip (Projetos Imagem) com o objetivo de divulgar o vinho brasileiro, o enoturismo e a enogastronimia na mídia. Também investimos fortemente em qualificação da produção, seja por meio do Programa Qualidade na Taça, para melhoria do serviço do vinho, ou como o Programa Alimentos Seguros (PAS) Uva para Processamento, que qualifica a produção de uva e vinho no país.

 

Quais são os principais mercados consumidores do vinho brasileiro? Qual o volume transacionado?

O maior mercado ainda é o interno, absorvendo cerca de 98% do volume produzido. Entre os países que mais importam vinho brasileiro estão o Paraguai, Estados Unidos e o Reino Unido. Em 2018 tivemos um volume de mais de 4 milhões de litros exportados, o que gerou negócio de quase US$ 8 milhões, um crescimento de quase 30% em relação ao ano anterior.

Recentemente aderiram ao movimento WiM. Como na prática a participação nesse projecto poderá introduzir um consumo de vinho mais consciente no país?

Muitos países da Europa e da própria América do Sul já fazem parte deste movimento que incentiva o consumo do vinho ligado à gastronomia e ao convívio social. O Brasil é o quinto país da América do Sul a aderir ao programa mundial. Nosso papel é mostrar que o vinho, quando consumido moderadamente, é uma bebida que traz benefícios à saúde e ao bem-estar das pessoas. Por ser uma bebida convivial, na grande maioria dos casos, aprende-se a consumir em família, em encontros festivos ou comemorações familiares e, por isto, seu consumo tende a ser mais controlado, pois une diferentes gerações. Na prática, a adesão ao WiM faz com que o Brasil esteja inserido nas discussões sobre o tema, tenha acesso às informações importantes e possa desenhar estratégias para o consumo embasado em dados e informações relevantes do segmento. É também uma aposta no crescimento do consumo de vinhos no país e, por isso, queremos fazer este trabalho de forma responsável e consciente. A moderação no consumo é a melhor alternativa para aproveitar os benefícios que o vinho proporciona, tanto em termos de saúde como pelo prazer e satisfação que esta bebida traz.

A culinária brasileira é muito rica, cada região apresenta uma variedade enorme de pratos. Quais são as harmonizações mais emblemáticas até agora?

A harmonização por regionalidade, também conhecida como cultural, é uma conhecida técnica na combinação de vinho e comida. No entanto, é algo mais explorado em países com uma longa tradição enogastronômica. A culinária brasileira é de fato muito rica, assim como a diversidade dos vinhos nacionais. No entanto, a combinação entre os dois ainda depende do teste do tempo, para se falar em harmonizações clássicas regionais.

Há alguns indícios de pares que apontam nessa direção, como o galeto da Serra Gaúcha com o Merlot da região e os queijos serranos, feitos na região dos Campos de Cima da Serra, com os vinhos brancos locais. Mas é uma tradição ainda em construção.

Isso não impede que façamos casamentos de grande sucesso usando a tipicidade brasileira, gastronômica e enológica. A feijoada, por exemplo, prato clássico nacional, funciona muito bem com espumantes de método tradicional (mais encorpados) feitos no país. O churrasco é outro prato que encontra combinação nos nossos vinhos, principalmente os Cabernet Sauvignon e Tannat. A diversidade de frutos do mar de Santa Catarina têm bom acompanhamento nos Sauvignon Blanc feitos no Estado. Então há grandes caminhos a explorar nesse tema.

Há interesse por parte dos Chefs em conceber pratos que harmonizem especialmente com os vinhos brasileiros? Acreditam que a enogastronomia é também uma maneira de consagrar o vinho brasileiro  no mundo?


Sem dúvida. A gastronomia brasileira passa por um momento de valorização do local, do pequeno produtor. A proposta do “quilômetro zero” (adquirir insumos de fornecedores próximos) passa também pelos vinhos. Inclusive, é incoerente o restaurante que vende essa imagem e tem em sua carta só rótulos importados. Valorizar o vinho brasileiro é dar destaque a pequenos produtores (que formam 90% do setor no país). E além da atitude, os chefs estão também interessados na qualidade dos vinhos. É só perceber que os principais restaurantes dos grandes centros no país trabalham com vinhos brasileiros, sejam os rótulos mais famosos ou produtos mais exclusivos. E a enogastronomia é claramente um ambiente favorável ao vinho brasileiro. Há muito a explorar, mas isso deve ser visto como algo positivo, uma oportunidade. Há casos de outros produtos enológicos que ganharam fama internacional pegando carona na culinária de seus países. O Brasil, com a riqueza de sabores que oferece, deve seguir o mesmo caminho. 

Qual é o panorama actual do enoturismo brasileiro? Qual o impacto do vinho no turismo? As vinícolas familiares tem se profissionalizado para melhor receber os visitantes? Como tem sido esta evolução?


Nos últimos anos, o Ibravin vem trabalhando de forma mais intensa no fortalecimento do chamado turismo do vinho. Cerca de 30% das vinícolas gaúchas já possuem atrativos turísticos e, destas, 90% são micro e pequenas empresas. Nestes empreendimentos, mais de 40% da receita provém da venda direta aos turistas. O Instituto acredita que investir no enoturismo é agregar valor à produção, atrair novos consumidores e fortalecer toda a cadeia produtiva vitivinícola. Pensando nisso, em 2016, foi criado o Comitê de Enoturismo do Ibravin. Além de representantes da entidade, integram também a Associação Internacional de Enoturismo (Aenotur), o Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh) – Região Uva e Vinho, a Associação de Turismo da Serra Gaúcha (Atuaserra), o Bento Convention Bureau, o Sebrae/RS, além da Secretaria Estadual de Turismo, de secretarias municipais de Turismo de diversas cidades do RS, bem como associações e roteiros de enoturismo. Entre as ações coletivas do grupo esteve a concepção do 7º Congresso Latino-Americano de Enoturismo (realizado ano passado), a aproximação e parceria com a Embratur para divulgação do enoturismo brasileiro no Exterior e a decisão de contração de pesquisas que tracem o perfil do enoturismo gaúcho (ainda em desenvolvimento). Nos próximos meses, deve ser concluído um estudo também contratado pelo Ibravin, que está mapeando o perfil do enoturista da Serra Gaúcha.
Numa terceira frente de trabalho, dentro do convênio firmado entre o Ibravin e o Sebrae Nacional, R$ 420 mil serão destinados às ações voltadas para as Indicações Geográficas brasileiras, o que deve favorecer o turismo nas regiões onde há a certificação, incluindo a Serra Gaúcha. Ainda em conjunto com Sebrae, através da unidade do Rio Grande do Sul, o Ibravin apoia desde 2017 o Projeto de Enoturismo, através de suporte nas estratégias e meios de atuação e também na divulgação e promoção diretamente com setor. Compõem o grupo 37 vinícolas, sendo 27 delas da Serra Gaúcha e as outras 10 da Campanha.
Também como forma de estímulo, há 10 anos, o Ibravin viabiliza – juntamente com o Segh, o Dia do Vinho, que neste ano, em sua 10ª edição passará a se chamar Dia do Vinho Brasileiro.

 

Fotografias: Valdir Ben e Dandy Marchetty
Natália Andrade
blog.winelicious@gmail.com