09 Jan Indicações Geográficas – Brasil
As regiões vinícolas brasileiras têm investindo nos últimos anos na busca por certificação de origem, de modo a atestar a qualidade de cada terroir e se posicionar bem no mercado internacional de vinhos. Abaixo, apresentamos a lista apresentada pelo IBRAVIN (Instituto Brasileiro do Vinho) das zonas produtoras que já contam com Indicações Geográficas reconhecidas.
Farroupilha
A área delimitada da IP Farroupilha é a maior área de produção de uvas moscatéis do Brasil, com destaque para a cultivar Moscato Branco, cujo perfil genético foi identificado como único no mundo. A produção das uvas moscatéis é realizada por centenas de pequenos produtores concentrados na Região Delimitada de Produção de Uvas Moscatéis, enquanto os vinhos são elaborados por diversas vinícolas, que se encontram distribuídas em todo o território da Indicação de Procedência no município de Farroupilha.
A Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin), constituída por vinícolas familiares e cooperativas de pequenos viticultores, promove e estimula a vitivinicultura regional, cuja identidade é reconhecida na Indicação de Procedência Farroupilha, de fortes traços culturais, com foco na produção de vinhos finos moscatéis, incluindo os vinhos finos tranquilos, moscatel espumante, moscatel frisante, vinho licoroso, mistela e brandy de moscatel.
Algumas regras da IP Farroupilha
Variedades autorizadas: Moscato Branco (tradicional); Moscato Bianco; Malvasia de Cândia (aromática); Moscato Giallo; Moscatel de Alexandria; Malvasia Bianca; Moscato Rosado e Moscato de Hamburgo.
- Os vinhos só podem ser elaborados com as uvas Moscatéis autorizadas;
- Mínimo de 85% das uvas produzidas na RDPM – área com 128,62 km2 que delimita a origem histórica da produção de moscatéis da região;
- Elaboração, engarrafamento e envelhecimento na origem (espumantes e frisantes podem ser engarrafados também nos municípios limítrofes da I.P.).
- Vinhos com padrões de qualidade estabelecidos e controlados para valorizar as características naturais dos produtos desta origem.
Monte Belo
Em 2003, um grupo de viticultores criou a Associação de Vitivinicultores de Monte Belo do Sul (Aprobelo), motivados a estimular e promover a produção de vinhos de qualidades de origem controlada na região, onde quase 40% da área é cultivada com vinhedos.
A Indicação de Procedência (IP) Monte Belo tem como grande diferencial o fato de ser constituída exclusivamente por vinícolas familiares de pequeno porte. A área geográfica delimitada é de 56,09 km2, distribuídos pelos municípios de Monte Belo do Sul (com 80% da área), Bento Gonçalves e Santa Tereza.
Monte Belo do Sul é o município com a maior produção per capita de uvas para a elaboração de vinhos finos (Vitis vinifera) da América Latina, com 16 toneladas per capita/ano, sendo a grande região produtora de uvas de qualidade utilizadas na elaboração de vinhos finos em vinícolas da Serra Gaúcha. Agora, com a produção de vinhos de origem controlada no local, os pequenos produtores poderão agregar mais valor à sua produção e a região ter a visibilidade merecida.
Algumas regras da IP Monte Belo
Os produtos autorizados são elaborados na região delimitada, com as respectivas cultivares autorizadas, exclusivamente de Vitis vinifera:
Vinhos Finos Brancos Tranquilos: Riesling Itálico e Chardonnay
Vinhos Finos Tintos Secos: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Tannat, Egiodola e Alicante Bouschet;
Espumante Fino: Riesling Itálico (> 40%), Pinot Noir (>30%), Chardonnay e Prosecco;
Moscatel Espumante: elaborado com base em seis cultivares moscatéis da região.
- 100% das uvas utilizada na elaboração dos vinhos devem ser produzidas na área geográfica delimitada.
- Vinhedos com produtividade controlada e padrões de maturação das uva para vinificação; vinhedos georreferenciados, garantindo o rastreamento dos produtos.
- Levedura exclusiva da região para vinificação.
Vale dos Vinhedos
Pioneiro na busca por regras de certificação, o Vale dos Vinhedos foi a primeira zona produtora a receber a Denominação de Origem (DO) para vinhos no Brasil.
A conquista ocorreu em 2012, exatos 10 anos após a região alcançar o status de Indicação de Procedência (IP), pré-requisito exigido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para a concessão da DO.
A classificação exige o cumprimento de normas bastante restritas, que abrangem desde o cultivo da uva até o engarrafamento do vinho.
Algumas regras do Vale dos Vinhedos
- Variedades autorizadas – Vinhos tranquilos: Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Tannat, Chardonnay e Riesling Itálico; Espumantes: Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico
- A produtividade é limitada em 10 toneladas por hectare para os vinhos tranquilos e 12 toneladas por hectare para espumantes
- Graduação alcoólica mínima de 12% para tintos, 11% para brancos e 11,5% para espumantes
- Espumantes secos devem ser feitos pelo método tradicional
- Chaptalização e uso de chips ou lascas de carvalho não são autorizados
Pinto Bandeira
A vocação das vinícolas localizadas em Pinto Bandeira para a elaboração de espumantes foi reconhecida em 2010 pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) por meio da Indicação de Procedência (IP) para a região.
A grande qualidade dos espumantes sejam secos ou doces chamou atenção também para os vinhos feitos na mesma área, que foram igualmente incluídos na classificação.
Os produtos que recebem o selo da IP são previamente avaliados por um júri regulador, que verifica se os rótulos apresentam a qualidade mínima esperada e se trazem as características particulares dos vinhos e espumantes elaborados em Pinto Bandeira.
Algumas regras da IP Pinto Bandeira
- Variedades autorizadas – Espumantes secos: Chardonnay, Pinot Noir, Riesling Itálico, Viognier; Espumantes doces: Moscato Branco, Moscato Giallo, Moscatel Nazareno, Moscato de Alexandria, Malvasia de Candia, Malvasia Bianca; Vinhos tranquilos: Cabernet Franc, Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Tannat, Pinotage, Ancellotta, Sangiovese, Chardonnay, Riesling Itálico, Moscato Branco, Moscato Giallo, Trebbiano, Malvasia Bianca, Malvasia de Candia, Sémillon, Peverella, Viognier, Sauvignon Blanc, Gewurztraminer
- Espumantes secos devem ser feitos pelo método tradicional
- Vinhedos com controle de produtividade
Altos Montes
Com 173,84 quilômetros quadrados, a Indicação de Procedência (IP) Altos Montes é a maior já certificada no Brasil. Abrange Flores da Cunha e Nova Pádua, municípios que estão entre os maiores produtores de vinhos por volume do Brasil.
Foi assim batizada por causa de seu relevo acidentado e pela altitude, que chega a 885 metros em relação ao nível do mar.
O cultivo da uva na região é marcado pela ocorrência em pequenas propriedades e por empregar basicamente mão-de-obra familiar. Isso não impediu que as vinícolas fizessem uso de alta tecnologia para elaborar vinhos cada vez melhores.
Algumas regras da IP Altos Montes
- Variedades autorizadas – Vinhos tranquilos: Cabernet Franc, Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Ancellotta, Refosco, Marselan, Tannat, Riesling Itálico, Malvasia de Candia, Chardonnay, Moscato Giallo, Sauvignon Blanc, Gewurztraminer, Moscato de Alexandria, clone R2; Espumantes secos: Riesling Itálico, Chardonnay, Pinot Noir, Trebbiano; Espumantes doces: Moscato Branco, Moscato.
- No mínimo 85% da uva utilizada deve ser proveniente da área delimitada. A elaboração, envelhecimento e engarrafamento dos produtos deve ocorrer dentro da área geográfica delimitada
- Vinhedos com controle de produtividade
- Nenhum vinho pode ir para o mercado sem passar pelo crivo da comissão de degustação
Vales da Uva Goethe
Única Indicação de Procedência (IP) relativa à vitivinicultura fora do Rio Grande do Sul até agora, os Vales da Uva Goethe compreendem a produção de vinhos brancos, espumantes ou licorosos a partir dessa variedade no Litoral Sul de Santa Catarina. O ponto de referência geográfico da IP é a cidade de Urussanga, mas ela se estende por outros sete municípios vizinhos.
Obtida em 2011, a certificação de origem foi uma conquista da Associação do Produtores da Uva e do Vinho Goethe da Região de Urussanga (Progoethe), entidade fundada para agregar vinicultores e desenvolver a imagem dessa casta.
Novas iniciativas de indicação de procedência vinícola no país
A busca por certificações que atestem a origem e a qualidade de vinhos e espumantes é uma tendência que cada vez mais ganha força no Brasil. A maior parte das iniciativas se concentra no Rio Grande do Sul, mas propostas nesse sentido começam a surgir também em outros lugares do país. Na Serra Gaúcha, duas regiões trabalham para conquistar o reconhecimento. Os Vinhedos de Monte Belo (Aprobelo) já ingressaram com pedido no INPI para a Indicação Geográfica. Na cidade vizinha de Farroupilha, a Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin) tem projeto similar, visando especialmente a promoção de seus moscatéis.
Ainda no Rio Grande do Sul, a entidade Vinhos da Campanha trabalha para o reconhecimento da zona produtora que abrange a fronteira do Brasil com o Uruguai. Em outro extremo do Brasil, os produtores ligados ao Instituto do Vinho Vale do São Francisco (VinhoVasf) buscam a certificação para o Vale do Submédio São Francisco. Conforme novas regiões vinícolas vão se desenvolvendo no país, são esperados mais pedidos de indicação geográfica. Claramente, esse é um processo que está apenas começando.